Pagamento de pessoa para pessoa será instantâneo - NetSeg

Pagamento de pessoa para pessoa será instantâneo

Financeiro | 2020-07-17

Novo sistema P2P promete mais comodidade e agilidade nas transações por DOC e TED entre pessoas, entre pessoas e estabelecimentos e entre empresas.

 - iStock

Erivelto Tadeu

Se tudo ocorrer como planejado, a partir de novembro começam as primeiras transações com o pagamento instantâneo entre pessoas no Brasil, o chamado P2P —sigla em inglês para "person to person", ou transferências entre pessoas físicas. Além de maior comodidade ao cidadão, essa nova forma de pagamento de produtos e serviços, que poderá ser feita por meio de aplicativos de celular ou transferência eletrônica por computador, traz como principal inovação, como o próprio nome diz, a instantaneidade. Pagamentos ou transferências monetárias ocorrerão em tempo real, durante 24 horas por dia, nos sete dias da semana, inclusive nos feriados.

Esta é justamente a maior mudança trazida pelo P2P em relação aos modelos em vigor no Brasil. Atualmente, ao transferir valores de uma conta para outra entre instituições diferentes, seja por meio de TED (Transferência Eletrônica Disponível) ou de DOC (Documento de Crédito), o dinheiro somente fica disponível no mesmo dia quando a transferência ocorre entre 6h30 e 17h, de segunda a sexta-feira. Com o novo modelo, os recursos serão transferidos em cerca de dez segundos.

Especialistas e executivos do mercado financeiro veem grande potencial para o crescimento do P2P no Brasil. Em primeiro lugar, porque, além de tornar mais ágeis as transações, o uso dessa plataforma vai reduzir custos associados às operações financeiras e até da circulação de papel moeda. Depois, porque vai permitir, segundo eles, que os agentes financeiros alcancem pessoas de diversas camadas sociais, com a possiblidade inclusive de promover a chamada bancarização — estima-se que 29% da população brasileira não possuem uma conta corrente ou qualquer tipo de relacionamento com uma instituição financeira, segundo levantamento do Instituto Locomotiva. Isso, sem falar que deve estimular também a competitividade no mercado e a melhoria da qualidade dos serviços.

A avaliação geral é que o P2P vai beneficiar tanto quem compra e vende —lojistas, autônomos e empreendedors — quanto as instituições financeiras. Não é à toa que hoje praticamente todos os bancos, administradoras de cartões, cooperativas de crédito e fintechs já estão desenvolvendo plataformas de P2P.

Os projetos têm como base o sistema de pagamentos e transferências instantâneos PIX, anunciado em fevereiro pelo Banco Central (BC) e que deve entrar em operação em novembro. O desenho do novo sistema conta com a colaboração da Febraban, que criou um grupo de trabalho para discutir requisitos como segurança, padronização do serviço e interoperabilidade, bem como aos arranjos para processamento de transações, como a liquidação de operações entre os diferentes agentes financeiros. 

O PIX poderá ser usado para qualquer tipo de transação, como pagamentos e transferências de dinheiro entre pessoas e, em uma segunda etapa, entre pessoas e estabelecimentos comerciais (P2M), entre estabelecimentos (B2B) e até mesmo entre empresas e governo, mais adiante. 

Em abril, o Grupo de Trabalho de Pagamentos Instantâneos (GTPI) criado pelo Banco Central iniciou uma nova fase do PIX, que permitirá que os agentes financeiros simulem seus fluxos de liquidação na nova plataforma, ou seja, os processos de pagamentos e transferências de recursos entre pagadores e recebedores. 

Na realidade, o PIX vai funcionar como uma espécie de câmara de compensação que responderá pela liquidação e gerenciamento da base de endereçamento das transações, enquanto o aplicativo será fornecido pelos prestadores de serviço de pagamento (PSPs), que pode ser tanto um banco, cooperativa de crédito ou administradora de cartão como outra empresa qualquer de meio de pagamento. 

Os pagamentos ou transações pelo PIX poderão ser feitos de múltiplas formas, tais como por QR Code, estático ou dinâmico, por meio da inserção de informações simples como número de celular, e-mail, CPF ou CNPJ (tecnicamente chamada de chave de endereçamento) ou por meio do preenchimento de dados manualmente como se faz hoje com uma TED. Outra modalidade de pagamento será por aproximação sem contato (contactless), em que o pagador aproxima seu celular ao do recebedor para que a transação seja concluída. 

Segundo o diretor de Organização do Sistema Financeiro e Resolução do BC, João Manoel de Pinho Mello, a ideia é que o PIX seja tão fácil e instantâneo como o bate-papo em um chat ou como o WhatsApp é para a troca de mensagens, seja para pagar um serviço, cafezinho na padaria, compras no supermercado, contas domésticas, como água e luz, ou taxas públicas, como a de passaportes ou impostos, e até mesmo o transporte público. Como exemplo prático, ele cita a possibilidade de pagar um pipoqueiro por meio de QR Code gerado pelo próprio vendedor, com o pagamento feito pelo aplicativo da instituição financeira na qual o consumidor tem conta.

O BC, segundo Mello, vislumbra inúmeros benefícios com o pagamento instantâneo, tanto para pagadores quanto para recebedores. "Os pagadores terão mais rapidez, segurança, praticidade e economia nas transações, enquanto os recebedores vão usufruir do custo de aceitação menor do que os demais meios eletrônicos, além da disponibilização imediata dos recursos, facilidade de automatização e de conciliação de pagamentos e rapidez no checkout (finalização da transação)."

Os ganhos proporcionados pelo P2P são destacados também por Aloísio Carneiro de Barros Jr., gerente nacional de Desenvolvimento de Meios de Pagamento da Caixa. A avaliação dele é que o pagamento instantâneo vai atualizar a forma de movimentação dos recursos financeiros e facilitar e agilizar o pagamento e a troca de recursos entre pessoas, estabelecimentos comerciais e empresas.

Barros Jr. vê o P2P como uma tendência irreversível e conta que a Caixa está participando dos projetos tanto no âmbito da Febraban quanto do Banco Central. Segundo ele, a instituição trabalha no sentido de ter uma solução de P2P ainda neste ano, inclusive já em certificação com os interlocutores envolvidos, independentemente das agendas do BC e da federação dos bancos. "De todo modo, nós estamos respeitando os cronogramas dos parceiros, sejam eles os de cunho regulatório, sejam eles os comerciais, como as bandeiras de cartão de crédito, já que estas também terão suas soluções P2P." 

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