Prezados Arquitetos: O Som Importa! - NetAv

Prezados Arquitetos: O Som Importa!

Áudio | 2016-02-09

Falamos sobre como as cidades e os edifícios parecem. Chamamos os lugares de bonitos ou feios. Mas raramente falamos sobre os sons da arquitetura, exceto quando um prédio ou sala é barulhento. Todos os espaços que projetamos e habitamos têm sons distintos. As salas de leitura da Biblioteca Pública de Nova York têm uma variedade de sons. O seu escritório pode ser uma grande sala em um edifício com fachada de vidro com corredores de cubículos separados por baias onde as pessoas trabalham em seus computadores.

Ele pode ter janelas anti-ruído, e você pode achar que é silencioso. Será? Normalmente, o som de um lugar é tão prevalecente que paramos de perceber o que estamos ouvindo. Ou achamos que o som não poderia ser diferente — do que é, até falarmos "apaguem as luzes dessa luminária barulhenta". 

O som pode ser invisível ou percebido apenas de forma inconsciente, mas isso não o torna um material menos arquitetônico que a madeira, vidro, concreto, tijolos ou luzes. Ele é moldado pelo design, embora a maioria dos arquitetos raramente pense nisso, exceto quando sua tarefa envolve uma sala de concerto agradável ou um restaurante barulhento — então, os especialistas em acústica são chamados. Dito isso, não é preciso ser um especialista para distinguir os espaços de acordo com os sons que produzem.

Durante a Idade Média, os cheiros das cidades eram o incômodo do qual as pessoas não falavam. Hoje é o barulho. As ruas, espaços públicos, bares, escritórios, até os apartamentos e casas residenciais podem ser extremamente barulhentos, incômodos e enervantes. E gostaríamos de uma trégua. Os arquitetos do High Line não deram um ênfase especial ao barulho deste parque popular elevado. 

Mas uma grande satisfação em caminhar por ele — e a sensação do visitante de estar fora da cidade, enquanto está bem no meio dela — é proveniente de sua altura, que fica a aproximadamente 10 metros acima das ruas, e a mudança correspondente no ambiente sônico. A poluição sonora causada pelo trânsito abaixo do parque High Line agride os pedestres fisicamente no nível da rua. 

No topo do High Line, o barulho das ruas quase passa despercebido, mas nunca está distante o suficiente, tornando-se uma nota grave, permeando as vistas em uma paisagem auricular que permanece urbana e separada em camadas. Quase meio século atrás, o crítico Reyner Banham escreveu o livro "Well-Tempered Environment", no qual ele meditou sobre como as questões de aquecimento, ar, iluminação e materiais criam hábitats que influenciam de forma variada as nossas experiências com relação aos prédios. Ele enfatizou o fato de que tais considerações ambientais deviam ser "naturalmente incluídas nos métodos normais de trabalho do arquiteto". O barulho pode ser acrescentado à lista de Banham. Falamos de forma admirada sobre prédios ecológicos ou com uso eficiente de energia, com jardins suspensos, ventilação cruzada e escadas que encorajam os moradores a utilizá-las, porque um ótimo design pode inspirar a melhorar a saúde pública. Mas quase não falamos sobre como o barulho nesses prédios, e em todos os outros espaços, nos fazem sentir. A acústica pode atuar de formas profundas e intuitivas, não diferente da música (pense sobre o som de uma casa vazia). E, embora, às vezes seja difícil definir exatamente como, frequentemente há uma correlação entre a função de um lugar ou de um objeto e o som que esperamos que ele faça. 

Então, uma porta de madeira cara e sólida soa melhor que uma porta oca mais barata, parcialmente porque sua batida pesada nos reafirma que a porta é uma verdadeira barreira, correspondendo ao uso para a qual foi fabricada.