Inteligência artificial cresce na América Latina, mas desafio ainda é grande - NetSeg

Inteligência artificial cresce na América Latina, mas desafio ainda é grande

Financeiro | 2021-03-05

Estudo da everis e Endeavor mostra que, apesar de avanço nos últimos dois anos, o desenvolvimento de IA ainda está em fase inicial na região; Brasil concentra 42% das empresas deste mercado.

O uso de tecnologias de inteligência artificial (IA) cresceu de 32%, em 2018, para 48%, em 2020, na América Latina, segundo o Índice de Nível de Inovação e Crescimento IA (Inicia), metodologia desenvolvida pela consultoria de negócios everis. O relatório avalia critérios como ano de fundação, grau de maturidade das empresas, volumes de vendas, empregos gerados e investimentos recebidos. Segundo o  estudo, produzido em parceria com a Endeavor, no Brasil, onde está concentrado o maior número de empresas de IA da região (42% do total), a quantidade de empresas de inteligência artificial saltou de 120 em 2018, para 206 empresas em 2020.

O relatório “O impacto da inteligência artificial (IA) no empreendedorismo da América Latina” aponta que a expansão deste mercado foi constatada, entre outros fatores, pelo volume de vendas dos empreendedores latino-americanos, que a Endeavor Intelligence calcula ser em torno de US$ 4,2 bilhões, além do montante de investimentos que receberam, em torno de US$ 2,2 bilhões, bem como pela geração de 38 mil empregos.

No entanto, apesar do crescimento significativo identificado no estudo, a IA ainda está em fase inicial na região, quando comparada com países mais desenvolvidos. Os principais indicadores para isso são o fato de 55% dos empreendedores terem fundado suas empresas entre 2014 e 2017, ou seja, estarem há poucos anos no mercado; bem como o investimento médio recebido ainda ser baixo, por volta de US$ 528 mil, e ainda utilizarem técnicas de machine learning tradicional, sendo que o uso de deep learning ainda é minoritário.

Do ponto de vista financeiro, 61% das empresas pesquisadas receberam investimento de uma ou várias fontes, sendo 49% de capital semente (seed money, modelo de financiamento voltado a projetos em estágio inicial ou zero), 23% de investidores anjos e 18% de rodadas de investimentos diversos. Outro aspecto que explica essa baixa maturidade é apontado no Artificial Intelligence Index Report 2019, da Universidade de Stanford (Califórnia, EUA), no qual é informado que apenas 0,2% das citações em patentes e 1,7% dos artigos publicados em revistas científicas relativos à IA no mundo vêm da América Latina, e que a região conta com menos de 0,5% dos investimentos privados nessa tecnologia.

Evandro Armelin, diretor de Data & Analytics da everis Américas, comenta que, nos últimos 10 anos, o acesso à internet na América Latina atingiu 68% da população, ou seja, 453 milhões de pessoas conectadas. "Essa expansão da conectividade serve como catalizador para impulsionar a adoção da IA na região, na qual existem milhões de usuários que se beneficiam hoje do uso de plataformas de e-commerce, fintechs, micromobilidade, ride hailing (serviços de transporte de passageiros por aplicativos), grocery (mercado online) e food delivery (aplicativos de entregas de comida). Por outro lado, persiste o receio de perdas de postos de trabalho tradicionais e de fracassos nos negócios, que ainda dificultam o aumento das iniciativas de IA", afirma.

TECNOLOGIAS

Luis Quiles Ardila, diretor de Inteligência Artificial da everis Brasil, informa que, como observado no estudo anterior de 2018, as aplicações de IA mais comuns na região continuam sendo business intelligence & analytics (20%), automated machine learning (15%) e text analysis/generation (11%). Das técnicas utilizadas, o uso mais abrangente é a classificação (54% dos casos), seguido da previsão (49%) e do processamento de linguagem natural (42%). 

O executivo ressalta ainda que a grande maioria das empresas latino-americanas (86%) tem desenvolvimento próprio de IA, baseado em frameworks de terceiros, sobretudo das bigtechs, com destaque para Google TensorFlow, Amazon Web Services (AWS), PyTorch e Microsoft Cognitive Toolkit. "As demais utilizam IA adquirida. Isso mostra que o ecossistema colaborativo criado pelas bigtechs é um dos pilares da atual evolução de IA, grande número de startups e empreendedores dedicados a IA se tornam participantes e podem algum dia despertar o interesse das grandes empresas de tecnologia", comenta Ardila.

CENÁRIO GLOBAL

A inteligência artificial ganha mais mercado ano após ano e este mercado começa a chegar no seu ponto de inflexão. O Fórum Econômico Mundial, por exemplo, projeta que o PIB mundial será 14% maior em 2030, como resultado de uma maior utilização da IA em soluções industriais e no cotidiano, o equivalente a US$ 15,7 trilhões. Essa estimativa se apoia no crescimento e democratização dos níveis de processamento computacional, que estão ganhando mais velocidade e acessibilidade. 

"Essa tendência de ampliação do uso de IA no novo cenário global torna essa tecnologia vital para o desenvolvimento de empresas e países, porque viabiliza a automação e gestão eficiente das operações e do atendimento aos clientes omnichannel (omnicanal, estratégia para unificar ferramentas de atendimento e criar a mesma experiência online e offline para comércios), resultando em benefícios econômicos e sociais indiscutíveis. Diante deste cenário, pensamos ser fundamental conhecer o ecossistema de IA na região para contribuir para sua constante inovação e crescimento", destaca Armelin.

NOVOS SETORES E MODELOS DE NEGÓCIOS

De fazendeiros que usam drones para monitorar a saúde das suas lavouras até lojas que usam chatbots para atender os clientes, a adoção de IA cresceu em vários setores econômicos e vem contribuindo para o surgimento de novos segmentos de negócios impensáveis há alguns anos. De acordo com o estudo, o uso de IA é mais amplo no segmento de software corporativo & serviços (39% da amostra), seguido por comércio e varejo (12%), saúde (7%), serviços financeiros (7%) e marketing (7%). Outros setores como educação, agricultura, infraestrutura, entretenimento, transporte e logística, também viram inovações significativas com sua implementação em vários aspectos.

DESAFIOS DA INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL NA AMÉRICA LATINA

Nesta edição de 2020, a everis e a Endeavor entrevistaram 136 das 490 empresas identificadas em países da América Latina como Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, El Salvador, Equador, Honduras, México, Panamá, Paraguai, Peru, Uruguai e Venezuela, para identificar o crescimento do segmento de IA na região.

O estudo elencou os principais desafios dos empreendedores de IA, que, apesar de todo progresso no mercado nos últimos anos, continuam sendo os mesmos:

Escassez de talentos: o fenômeno de brain drain (fuga de cérebros), quando pesquisadores e professores deixam seus cargos para trabalhar nas bigtechs fora do país, desafia a geração de talentos nas universidades. A desconfiança em relação aos desenvolvedores locais e a precária retenção de talentos por empresas diante dos concorrentes das bigtechs continuam atormentando o ecossistema;

Adoção da tecnologia: o desconhecimento, as incertezas e, às vezes, as expectativas pouco realistas sobre IA por parte dos clientes impedem a adoção abrangente;

Ausência de políticas públicas construtivas: os governos não investiram suficientemente no desenvolvimento de empreendedores, nem na educação tecnológica. Em termos de proteção de dados e privacidade, não existe um modelo latino-americano baseado em princípios de confiança, segurança e direitos fundamentais em relação ao uso da IA.

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